AQUAMAN 2 - O REINO PERDIDO

Aquaman and the Lost Kingdom, 2023, EUA.
Direção: James Wan
Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick, a partir do argumento de James Wan & David Leslie Johnson-McGoldrick e Jason Momoa & Thomas Pa'a Sibbett.
Produção: Peter Safran, Wan e Rob Cowan.
Elenco: Jason Momoa, Patrick Wilson, Yahya Abdul-Mateen II, Nicole Kidman, Dolph Lundgren, Randall Park, Temuera Morrison, Martin Short, Jani Zhao, Vincent Regan, Indya Moore, amber Heard.
Duração: 125 min.

Sinopse: Após fracassar em seu primeiro confronto com Aquaman, o Arraia Negra, movido pela necessidade de vingar a morte de seu pai, não vai desistir enquanto não derrotar Aquaman de uma vez por todas. Agora mais temível do que nunca, Arraia Negra detém o poder do mítico Tridente Negro e sua ancestral força malévola. Para derrotá-lo, Aquaman recorrerá a seu irmão Orm, o ex-Rei da Atlântida, ainda na prisão, para forjar uma aliança improvável. Juntos, eles vão ter que deixar de lado suas diferenças para proteger seu reino, salvar a família de Aquaman e o mundo da irreversível destruição.

O ano de 2023 não foi um bom ano para as produções baseadas em quadrinhos no cinema. Com raras exceções, a maioria sofreu com bilheterias baixas, desconfiança e falta de interesse do público, além de produções com roteiros e efeitos capengas. Com os grandes estúdios amargando prejuízos e criticas pesadas, o ano se encerra com Aquaman 2: O Reino Perdido.
O filme chega com a missão de encerrar o mal fadado DCU, que se iniciou com o bom O Homem de Aço (2013) e que contou com filmes que variavam entre produções ruins, medíocres ou medianas, e alguns filmes bons. Entre os realmente muito bons, raras exceções, estão o primeiro filme da Mulher Maravilha (2017) e Aquaman (2018).
O primeiro filme do herói submarino da DC foi um sucesso estrondoso, com direção segura de James Wan, um diretor com um background voltado ao universo do horror, com franquias de sucesso, como Sobrenatural, Invocação do Mal e Jogos Mortais. O primeiro filme contava focava na jornada do herói, com enredo bem construído, um visual fantástico e efeitos primorosos. O filme foi muito bem recebido, fechando com uma bilheteria de mais de 1 bilhão, sendo o filme mais lucrativo do DC Extended Universe - DCEU. Mas as outras produções não se mostraram tão lucrativas quanto a Warner Bros desejava, e em meio a mudanças de executivos, críticas pesadas, produções duvidosas e diretores caricatos sendo praticamente canonizados por uma parcela do público, fato que trouxe desconforto para o estúdios, tomou-se a decisão de contratar o diretor e produtor James Gunn para dar rumo ao estúdio, encerrar o combalido DCEU, fazer um reboot e criar o DCU. Nesse processo, varias produçoes foram afetadas, tendo que passar por refilmagens, mudanças de roteiro, cenas deletadas, mudanças de elenco, sendo que Aquaman 2: O Reino Perdido foi um desses filmes, que passou por mudanças e adiamentos (sofreu três adiamentos, sendo que originalmente era para ter sido lançado em 16 de dezembro de 2022, depois sendo alterado para 17 de março de 2023). E o filme ainda sofreu com polêmicas por conta da atriz Amber heard que estava em um processo judicial contra seu ex-marido Johnny Depp.

Eis que finalmente o filme é lançado mundialmente. Assim como o primeiro filme, Aquaman 2: O Reino Perdido conta com belos efeitos especiais, um visual rico e deslumbrante. É uma aventura despretensiosa, com um bom ritmo narrativo. O filme começa com uma recapitulação dos eventos da produção anterior em meio a uma sequência de ação com o rei atlante cavalgando o seu icônico cavalo marinho gigante, mostrando sua vida atual e dividida: pai de família em terra, com seu pai, seu filho e sua esposa, rei no universo subaquático. Em paralelo, vemos o vilão Arraia Negra procurando artefatos que o possibilitem se vingar de Aquaman. Ele é auxiliado pelo Dr. Shin, que após um acidente na Antártida, devido ao aquecimento global, descobrem uma civilização tão antiga quanto a atlante com armas e equipamentos mortais, sendo o mais fatal um tridente negro que possui a essência de uma criatura maligna que possui a mente do Arraia e o guia em busca de liberdade causando uma devastação global através de uma mudança climática, com a finalidade de libertar um mal ainda maior sobre a terra. Para tanto, eles necessitam de uma substancia volátil e perigosa chamada oricalco, armazenada em cofres nos reinos submarinos, sendo o ultimo a cidade de Atlantis. Após uma batalha, com diversos mortos e feridos, Aquaman resolve libertar seu irmão Orm, o Mestre dos Oceanos de sua prisão desértica, onde definha sem contato com água, para lhe auxiliar contra o Arraia Negra e a entidade que quer se libertar para destruir totalmente o planeta, junto com seu exército.

Aquaman 2: O Reino Perdido é um filme divertido, mas com um roteiro mediano, mas que não chega a incomodar. É bem estruturado e recheado de cenas marcantes. James Wan praticamente homenageia e presta diversos tributos, enchendo o filme de referencias, algumas beirando a cópias. O uniforme utilizado pelos capangas do Arraia Negra são referencias diretos ao clássico Planeta dos Vampiros (1965), do mestre Mario Bava, filme que foi uma das maiores influencias do Alien, de Ridley Scott e que conta com a brasileira Norma Bengell. A cena do reino dos piratas, onde Arthur e Orm vão em busca de pistas do Arraia Negra, tem um conjunto musical que lembra o de Sy Snootles & Max Rebo Band, de O Retorno de Jedi (1983), inclusive tendo uma ser com uma tromba  como o Max Rebo. Toda a sequência lembra a do palácio de Jabba e do Sail Barge, inclusive com guardas tubarão-martelo que estão em posições semelhantes aos guardas gamorreanos. E as cenas com a entidade e seus exércitos fazem um paralelo com Sauron, Mordor e outros elementos de O Senhor dos Anéis. E as criaturas monstruosas parecem ter saído de livros de H. P. Lovecraft, o que não é uma surpresa, já que James Wan é um fã de horror.

As cenas de ação são bem dirigidas, dinâmicas e empolgam, e o filme tem os seus momentos de carga dramática, mas o filme peca no excesso de piadinhas. Momoa emana carisma com a sua personificação herói e Patrick Wilson está bem à vontade com a sua personalidade dúbia. Embora não tão bom quanto o primeiro, que tinha uma aventura bem mais empolgante, Aquaman 2: O Reino Perdido não decepciona, sendo um filme divertido, com um personagem que sofreu com péssimos roteiros e piadas maldosas nos quadrinhos, tem diversos easter eggs para os fãs, desde o cavalo marinho que serve de montaria, passando pelo polvo Topo, até a atualização do traje stealth (da fase de Neal Pozner e do artista Craig Hamilton, publicada no Brasil na extinta Superamigos, da editora Abril, entre os 31 a 34, 1987). E ainda o sequestro de seu filho, Arthur JR, pelo Arraia Negra, tal qual nas HQs, mas sem a tragédia que ocorre nos quadrinhos, publicado em Adventure Comics #452, escrita por David Michelinie e ilustrada por Jim Aparo (1977). Seria interessante um terceiro filme, onde o personagem possa perder a mão, devorada por piranhas, como na ótima fase escrita por Peter David (1994).

Aquaman 2: O Reino Perdido, até então é o ultimo filme do herói, ao menos com Jason Momoa, que se despede do personagem de maneira heróica, mas com um leve tom melancólico.