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Hector Salas

por João Taboada07/12/2014

Hector Salas, ilustrador e designer, cartunista por paixão e publicitário por formação. Baiano e soteropolitano já fez diversos trabalhos de alcance nacional como a marca do Carnaval de Salvador, a nova marca da Justiça Eleitoral Brasileira e a marca do GGB. Atualmente trabalha na agência de publicidade ADSS e mantém um blog com seus cartuns e charges políticas.

VA - Hector, você é formado em publicidade, no entanto, você já participou (e ganhou) diversos concursos relacionados a design (marcas) e cartuns. Qual das áreas em que você atua que mais se identifica?
HS – Eu me considero um artista gráfico. Minha paixão é o humor gráfico seguido da construção da identidade visual. As duas acabam tendo muito em comum pois são o exercício do poder da observação, da síntese e necessitam de um “repertório” amplo.

VA - Você participa constantemente de concursos de charges e caricaturas. Qual o concurso mais importante que já participou ou ganhou?
HS – O de Piracicaba é o mais famoso onde fui premiado, também em Recife que é um pólo tradicional. Porém, o concurso que mais me emocionou foi quando ganhei o da escolha da bandeira do Munícipio de Luis Eduardo Magalhães, no Oeste da Bahia. Ver o povo desfilando com as bandeiras, as crianças, ver meu nome no livro de história da cidade foi realmente muito gratificante.

VA - Eu lembro, há muitos anos trás, de um plágio que aconteceu no concurso da marca do carnaval de Salvador. A repercussão foi internacional. No ano seguinte você ganhou o concurso e a marca ficou por uns anos. Isto lhe projetou nacionalmente? Fale um pouquinho sobre isto.
HS – Pois é, foi um negócio muito louco aquilo do plágio. Na época, a melhor frase que ouvi sobre isto foi: “ele deu o azar de ganhar”. Houve uma certa ingenuidade, pode se dizer assim, fruto do hábito das “colagens” e uso de bancos de imagem indiscriminadamente para facilitar o trabalho do dia-a-dia das agências em um mercado que ao mesmo tempo que projeta a imagem de se especializar cada vez mais, às vezes parece dar indicativos de uma certa deteriorização.
Sobre o Carnaval, na verdade, eu ganhei duas versões do concurso: o primeiro com o Carnaváfrica e o último como o tema O coração do mundo bate aqui. Esta ficou toda a gestão de João Henrique. Acho que gostaram e viram que não dava problemas, rs. Até hoje as pessoas lembram das marcas e esta “fama” é muito boa pra diferenciar o meu trabalho, principalmente hoje, quando se vê anúncio de “criação de logomarcas por 5 dólares”.

VA - Normalmente, quem desenha o faz desde pequeno. É natural, portanto, que cada um tenha um tipo de traço particular, como no seu caso. O que lhe inspirou a começar a desenhar?
HS – Vejo que o mais importante não é o que nos inspira a iniciar, mas, sim, o que nos motiva a continuar ou não parar. O início é o comum biologicamente a todos.
No meu caso, algumas vezes, eu pensei em desistir, mas a necessidade de me expressar é quase terapêutica para mim, quase fisiológica.
E tive sorte de me deparar com grandes mestres que mostraram que isto era um bom caminho a seguir: em especial ao grande Antônio Cedraz, que nos deixou este ano, mas cuja obra sem dúvida se perpetuará.
Em um momento em que pensei em desistir, ser aceito pela turma do Pasquim sem nunca ter conhecido ninguém pessoalmente, apenas pelo que meu trabalho retratava, também foi muito importante. Foi um reconhecimento de qualidade que me deu mais segurança pois, até então, eu nunca tinha tido isto na Bahia.
Outro episódio que também levantou minha bola foi o convite para participar do livro de homenagem aos 50 anos de carreira de Maurício de Souza.
E tem alguns anos que notei uma coisa, o quanto minha mãe me influenciou. Ela tem um gigantesca coleção de quadrinhos e é muito mais leitora que eu, e dos mais variados títulos e estilos. E o detalhe: ela não me deixa chegar perto. Tranca tudo! Acha que eu não cuido, rs.

VA - Há algum quadrinista estrangeiro que lhe cause admiração e porque?
HS – Alguns em especial que são uma influência direta em meu trabalho. A estética do italiano Mordillo, a construção textual e temática do argentino Quino e a história de vida do norte americano Charles Schulz, criador do Snoopy. Mas com a internet, a cada segundo algo me causa admiração e influência.

VA - Quem lhe conhece pessoalmente, sabe que você é um cara com uma postura humorada e irônica. Isto o influenciou a entrar na área dos cartuns, correto? Qual o cartunista que é referência pra você?
HS – Sim, humor é fundamental para a sobrevivência em qualquer campo. Mas a ironia é algo que necessita cuidado e responsabilidade no uso, pois não é todo mundo que entende e nem sempre entende da maneira que se imaginou que seria.
Tenho muitas referências de cartunistas. Na década de 80 houve um BOOM dos quadrinhos nacionais, nesta época apareceream ao grande público através das revistas CIRCO e CHICLETE COM BANANA quase todos que foram as minhas primeiras infulências: Angeli, Laerte, Glauco, André Toral, Luiz Gê, depois outra movimentação bacana com a Revista Gaúcha Dumdum, quando apareceu o Adão Iturrusgaray. Aqui na Bahia, tivemos também um momento bacana quando lançaram a PAU DE SEBO com Lage, Setúbal e Rezende e, também, minha geração (antes da internet) se automotivava e influenciava. De minha geração temos: Bruno Aziz, Afoba, Augusto Mattos, ALix e tantos outros. Uma geração antes tem o Flávio Luiz e, evidentemente, Antônio Cedraz, que tive a oportunidade de ter como mestre e amigo.

VA - O que acha do quadrinho nacional?
HS - Acho que preciso voltar a ler, rs. Estou muito preso aos anos 80 ainda. Mas estou achando a cena bem interessante, pois não são mais as coletâneas de humor. São graphic novels autorais e de diversos motes.
Alguns bons desenhistas também trocaram o “sonho” de desenhar para Marvel e DC pela liberdade de expressar sua arte em títulos próprios, e o mercado parece estar em crescimento. Este cenário me dá muita vontade de escrever e passar os roteiros para algum desenhista mais competente do que eu para isto e batalhar por alguma editora ou até mesmo para autopublicação.

VA - O que acha dos programas de humor nacionais?
HS - A renovação está vindo do conteúdo da internet. As fórmulas estavam muito repetitivas e as tentativas de modernização esbarravam na falta de educação. Não consigo achar graça de alguém invadindo um velório. Ali teria que ser sepultado todo o bom senso junto.
Outra coisa que me incomoda é disfarçar como humor os dejetos de conteúdo racista e elitista que alguns “comediantes” excretam. Mas há quem goste, é um direito. Só não tentem me convencer que devo achar isto o máximo.

VA - Pelo seu blog (http://www.hectorcartoon.com/) dá pra perceber que, além de retratar assuntos do cotidiano (cartuns e quadrinhos) você também faz charges políticas. O que acha da política nacional? Você simpatiza com algum partido?
HS - Já tenho 42 anos. Não dá mais pra acreditar em Papai Noel, coelhinho da Páscoa e partido político. Acredito em atuação política. Esta coisa sectária ou maniqueísta de acreditar que existe um lado mal e um bom não dá mais pra mim não.

VA - Quais as técnicas que você utiliza para dar vazão à sua criatividade? Lápis, tinta, softwares vetoriais, bitmap, etc...
HS - Não tenho mais o menor saco pra sujar tudo de tinta embora ache lindo. Minha arte é rápida. Prefiro colorir tudo no computador. Às vezes desenho direto nele, outras vezes, no papel e escaneio.

VA - Que outras coisas além das artes gráficas servem de inspiração para seu trabalho? Música, filmes de humor, seriados de TV, trabalhos de artistas plásticos...?
HS - Caramba... tanta coisa me inspira. Se for pra resumir, GENTE é minha maior fonte de inspiração: as relações, os sentimentos, as histórias, suas expressões artísticas...

VA - Fale um pouco sobre seus projetos atuais.
HS - 2014 me foi pesado. Deixei o artista meio de lado. Estou me reinventando para 2015 e aí saberei o que fazer. Pretendo retomar meu blog e tentar emplacar algum projeto bom. Mas ainda não sei claramente qual.

VA - Alguma coisa a dizer para esta galera que está começando?
HS - Uma vez, quando eu era garoto, Valtério, um cartunista e ceramista baiano me deu uma dica que sempre repasso: gaste papel. Ou seja: desenhe, se aprimore. Antigamente o sonho da gente era ter acesso a uma máquina de xerox pra fazer fanzine. Hoje tem a internet e várias possibilidades de publicar e interagir com pessoas e com isto se aperfeiçoar.

VA - Onde podemos encontrar mais o trabalho de Hector Salas?
HS - Por enquanto, no meu blog ou no meu perfil do facebook. Mas que estou revendo tudo e, em breve, trago mais novidades.


∇......


Confira abaixo alguns trabalhos de Hector Salas:


Marca Carnaval de Salvador 2006


Marca Carnaváfrica - Salvador 2002



Mentirão



Comunicação


Fome


A volta da Ditadura

Cartunista, publicitário e vencedor de diversos concursos visuais como o da marca do Carnaval da Bahia, Hector nos conta um pouco sobre sua carreira.

http://www.visuarea.com.br/entrevistas/hector-salas
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Palavras chave: hector salas ilustrador, ilustrador baiano, cartunista baiano



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