Ericson Straub - Revista abcDesign

Ericson Straub é designer, criador e editor da revista abcDESIGN, a principal publicação periódica nacional na área de Design, já com 14 anos de existência e contando, a cada edição, com matérias de conteúdo significativo, diversificado e com suporte a duas línguas: português e inglês. Straub fala para os internautas do Visuarea sobre a história da revista, rumos e algumas de suas particularidades.

VA - Às vezes, grandes realizações partem do puro idealismo, da simples vontade de querer fazer algo que nos pareça significativo naquele momento. Como surgiu a ideia de criar a abcDESIGN?
ES - Eu sempre gostei muito de revistas e quando estava fazendo mestrado, percebi que tinham poucas, sendo que uma delas era a "Arte e Design", mas eu a achava muito específica. Eu me inspirei muito em outras que já tinham sido editadas como a própria "Arte e Design" e a "Gráfica", também. A ideia era criar uma revista que tivesse um conteúdo mais diversificado dentro da temática Design.

VA - De onde veio a ideia do nome "abcDESIGN" e seu slogan "Matéria-prima da criatividade"?
ES - Eu não me lembro direito como surgiu, mas me recordo que eu queria "ab do design", "abc do design", algo assim. Um dia eu estava conversando com o professor Ivan Fontoura, e ele falou: "aah, porquê você não coloca abcDesign?" Então, na verdade, foi uma ideia conjunta com ele. A ideia do matéria-prima da criatividade é mais contemporânea, quando nós começamos a ter um olhar ainda mais amplo do Design.

VA - Qual a formação de Ericson Straub? Como isso ajudou para que a revista se tornasse realidade?
ES - Eu tenho formação em Desenho Industrial pela PUCPR, fiz uma pós em História da Arte e, depois, mestrado em Gestão do Design na área de Engenharia da Produção, em Florianópolis. O que me ajudou bastante foi a pós em História da Arte, pois ela abriu um leque de possibilidades nas aplicações do Design.

VA - A abcDESIGN é publicada em duas línguas, ou seja, cada página tem seu conteúdo escrito em português e também em inglês. Isto consome uma parte importante da revista. O que justifica essa tradução? A abc é exportada para algum outro país?
ES - Hoje, por mais que nossos leitores sejam predominantemente brasileiros, nós temos um público significativo fora do País. Por exemplo, mandamos a revista pra um dos autores de Design mais influentes do mundo na atualidade, o Steven Heller, e acabamos sendo escolhidos por ele no livro "100 Classic Graphic Design Journals" como uma das 100 principais publicações de Design no mundo. Temos o objetivo, a longo prazo, de expandir e mostrar para o mundo o Design brasileiro. Este é outro motivo pelo qual a revista é pensada em dois idiomas.

VA - A abc é vendida pela internet e também pelas bancas, correto? Como é a distribuição da revista? Vocês vendem para todo o País? Qual o estado mais consumidor?
ES - Temos um distribuidor nacional, que repassa para diversas cidades do Brasil, mas hoje, os estados que mais consomem são São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais.

VA - Já existiram outras revistas impressas voltadas para o Design como a "Design Gráfico", sendo que algumas, voltadas para o Design Digital e Webdesign como a "Computer Arts" e a "Revista W" ainda existem em versão impressa, mas, também, possuem versão digital. A abc tem algum plano de lançar uma versão online da revista?
ES - Sim, nós já fizemos um projeto piloto dela, não foi uma revista inteira, mas sim, algumas partes dela. A nossa revista é bastante tátil, o acabamento da capa, o verniz aplicado, e isso, no digital, acaba sendo perdido. Mas estamos estudando formas de expansão através do conteúdo digital sim.

VA - A abc tem uma periodicidade trimestral, ou seja, tem uma nova publicação a cada três meses. Isso tem algum motivo especial? Interfere na qualidade do conteúdo?
ES - O motivo principal é o custo, pois se ela fosse mensal ou bimestral, teria que ter uma equipe maior e teria que ter um custo de produção maior também. De certa forma interfere no conteúdo factual, eventos ou elementos factuais que acontecem, ficam frios, mas nós suprimos essa demanda trabalhando com eles em nosso site. Como o Design tem muito conteúdo atemporal, não temos problemas em manter a revista com este viés também atemporal.

VA - Colaboradores são parte importante de publicações como jornais e revistas pois são eles que ajudam a viabilizar certos conteúdos. Como a revista se relaciona com eles? Existe algum tipo de vínculo ou obrigação?
ES - Desde o começo, a abcDesign foi feita com ajuda de colaboradores, de amigos e pessoas que querem que a abc sobreviva de alguma forma, então neste ponto nós temos uma gráfica parceira, temos colunistas parceiros. A gente convida as pessoas que escrevem de forma planejada, desde designers ligados a filosofia e outras temáticas como produção gráfica, por exemplo. Então, mesmo sendo escolhidas, essas pessoas são fundamentais para a sobrevivência da revista.

VA - A abcDESIGN tem um visual moderno e bonito o que demonstra cuidado com o projeto gráfico. Apesar do padrão dá pra perceber, também, uma certa liberdade estética quando a gente folheia. O papel, inclusive, é bem mais encorpado do que o tradicional. Sendo o público de Design bastante crítico é arriscado arriscar quando se trata de uma revista deste segmento?
ES - Acho que é mais fácil arriscar! O público é mais crítico, mas a gente não se preocupa muito com o que os designers vão pensar. Nós gostaríamos de fazer bem mais né, pois temos uma limitação de custo, mas sempre que a gente pode propor e arriscar uma coisa diferente a gente conversa com a nossa gráfica parceira e tenta viabilizar a ideia. E, é claro que além de viável, temos que respeitar também alguns preceitos, como o de legibilidade, que é fundamental para a leitura.

VA - No início deste ano (2015) a abc chegou ao número 50, mesmo com o País em princípio de recessão. Esse momento de crise tem interferido no consumo da revista?
ES - Na verdade não dá para dizer que é necessariamente a crise. O Brasil é um país que lê pouco, principalmente os jovens, então não sei se a redução tem a ver somente com a crise, temos que levar em consideração o perfil dos leitores também. O nosso propósito é criar conteúdo com o objetivo de mostrar que o Design pode transformar pessoas e para isso as pessoas precisam conhecer o que o Design é capaz de fazer.

VA - Como é o clima de trabalho na redação?
ES - A equipe é pequena, então todo mundo se ajuda e se dá super bem. Trabalhamos bastante com colaboradores remotos também, o que é muito interessante, pois temos visões mais abrangentes, além de sempre termos alguma visita especial na redação.

VA - Quando a abc iniciou, em 2001, não havia redes sociais. Como elas interferem na divulgação da revista?
ES - Atualmente, a forma mais eficaz de se conectar com pessoas de diversas localidades é através das redes sociais, mas acreditamos que a interação off-line seja muito importante para trocarmos conhecimento e conhecermos melhor nossos leitores, por isso sempre vamos a eventos e trabalhamos com diversas parcerias, pois a possibilidade de produzir conteúdo de maneira mais efêmera e cotidiana é incrível e nos deixa ainda mais próximos dos nossos leitores.

VA - Qual o pior momento que a revista já passou e qual foi o melhor?
ES - O pior momento sempre é aquele que deixamos algum erro passar e o melhor é a possibilidade de, diariamente, fazer coisas novas e expandir nossos propósitos.

VA - As edições anteriores ainda são vendidas online. O conteúdo delas ainda se mantém atual?
ES - Sim, nossas revistas, por terem um caráter atemporal não perdem a relevância com o passar do tempo, o que dá a característica a elas de serem colecionáveis.

VA - Alguma palavra final a dizer para o público?
ES - Nosso propósito é ser uma plataforma de transformação de pessoas, negócios e lugares através do Design e da inovação e o nosso sonho é que a revista chegue para todo o Brasil e cumpra seu papel como transformadora do Design, além de levar o Design brasileiro para todo o mundo.


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